Crítica: "A Princesa e o Plebeu" (1953) | Sophia Mendonça
A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday,1953) é um clássico dos romances. Alguns podem não saber bem o porquê, já que se trata de um filme simples, despretensioso e até certo ponto inverossímil. Mas, ao contrário de outros exemplares fraquinhos pertencentes ao mesmo gênero, o filme dirigido por William Wyler sabe como usar essas características a seu favor, tornando-se um passatempo irresistível. Escrito por Ian McLellan Hunter e John Dighton, o filme é centrado na princesa Ann (Audrey Hepburn), que se encontra cansada da vida cheia de obrigações que possui como quase toda a jovem de sua idade estaria se estivesse na sua posição. Uma coisa que chama a atenção logo no começo é a direção de arte luxuosa do palácio em que ela vive – a cama onde ela dorme é especialmente bonita, assim como os figurinos elegantes que ela usa. A figurinista do longa-metragem foi a lendária Edith Head, que por esse filme recebeu uma de suas 8 estatuetas do Oscar.
Como resultado da insatisfação que tem por sua vida, a princesa tem uma crise nervosa numa noite e o médico a seda para que ela durma. Acontece que, no mesmo dia em que toma tal medicamento, ela resolve fugir de onde mora ao ver uma festa acontecendo na rua (festa esta que contrasta com a comemoração monótona e com gente mais idosa que ocorre em seu palácio). Ela acaba deitando em um banco na rua e, lá, o jornalista Joe Bradley (Gregory Peck) a encontra, para depois levá-la à casa dele, sem saber quem ela é. Inicialmente ele fica infeliz com a idéia de tê-la em seu lar, querendo até que ela durma no sofá. No dia seguinte ele perde a hora para uma entrevista coletiva que teria, coincidentemente, com a princesa. A cena em que Joe tenta explicar ao chefe como foi tal entrevista, sem saber que ela havia sido cancelada, é a prova do bom timing cômico de Peck, cujo personagem acaba reconhecendo a princesa no jornal e resolve, então, apostar com o chefe que consegue uma entrevista exclusiva com a moça. Eles passam o dia todo juntos e acabam se apaixonando.
A história bonitinha vai passando num ritmo gostoso e prendendo a atenção, apoiando-se principalmente no casal de protagonistas, que possui uma química tão boa que o envolvimento dos dois, que tinha tudo para soar inverossímil (como assim, se apaixonar em um único dia?), convence. Audrey Hepburn ganhou o Oscar por este papel e está realmente muito bem no papel de princesa desajuizada que descobre como é o mundo fora de seu habitat. A personagem, que poderia parecer clichê, acaba cativando o espectador. Outra qualidade é o bom timing cômico que o diretor William Wyler prova ter, como na conversa que ocorre entre as personagens de Hepburn, Peck e Eddie Albert. Mais um exemplo disso é a briga que ocorre perto do rio.
Pecando apenas por possuir um ou outro furo no roteiro (eles passam o dia todo sem comer; a princesa foge do castelo sem nenhuma dificuldade), A Princesa e o Plebeu merece créditos, ainda, por possuir um final coerente, cada vez mais raro em filmes do gênero.