Crítica: Sereias (2025) | Selma Sueli Silva
Longe de ser apenas mais um drama familiar, Sereias revela-se um estudo instigante sobre família, classe e as complexas disputas de poder.
"Sereias": Um Canto de Poder, Família e Traumas
Em meio a tantas séries que pipocam nas plataformas, poucas conseguem nos prender com a profundidade e a sagacidade de "Sereias". Longe de ser apenas mais um drama familiar, a série revela-se um estudo instigante sobre família, classe e as complexas disputas de poder. Ela mergulha de cabeça nas infinitas possibilidades de bem e mal que a riqueza pode trazer e nos legados persistentes dos traumas de infância.
O mais fascinante em "Sereias" é a impossibilidade de se posicionar entre o bem e o mal. A série nos convida a uma reflexão profunda: qual canto de sereia nos atrai? Afinal, como o próprio ditado nos lembra, não é a sereia que atrai pelo canto, mas sim cada uma atrai quem tem afinidade por ele. Não se surpreenda se a personagem de Julianne Moore, por exemplo, que para muitos pode parecer a vilã, se tornar a favorita de outros. E é exatamente essa a beleza da narrativa.
A Trama Que Nos Conduz por Sereias
"Sereias" nos apresenta a história de duas irmãs e um vilão super-rico, cujo estilo de vida quase cultista ameaça separá-las. Devon (Meghann Fahy), a irmã mais velha, é uma alcoólatra que cuida de um pai cada vez mais difícil, enquanto trabalha em um emprego de salário mínimo e se envolve com o chefe casado. Quando o pai é diagnosticado com demência, ela envia um pedido de socorro à irmã mais nova, Simone (Milly Alcock). A resposta de Simone? Um "arranjo comestível" — ou, para os britânicos, uma cesta de frutas sofisticada.
Determinada, Devon embarca em uma longa jornada até o novo local de trabalho de sua irmã, com o objetivo claro de ter uma conversa bem direta e, talvez, enfiar o tal arranjo de frutas onde o sol não bate.
Um Trio Impecável e o Equilíbrio de Kevin Bacon em Sereias
Simone é a assistente pessoal de Michaela Kell (Julianne Moore), uma socialite e conservacionista de aves de rapina que nos entrega momentos de pura perturbação e brilho. Kiki, como Simone tem o prazer de chamá-la, é casada com o bilionário Peter (Kevin Bacon) e lidera uma tribo de acólitos. Devon rapidamente a identifica como uma líder de culto que tem Simone sob seu domínio.
Devon inicia uma campanha para salvar sua irmã de Michaela, de seu namorado (Ethan, interpretado por Glenn Howerton), da atração pelo estilo de vida luxuoso que ela está desfrutando, e do risco de esquecer quem ela é e de onde veio. Enquanto luta por Simone, Devon também precisa lidar com as visitas indesejadas de seu chefe e pai, com os funcionários que detestam Simone por seus modos autoritários, com uma força policial local que está no bolso de Michaela, e, ainda por cima, manter uma frágil e nova sobriedade.
Conclusão
O trio de protagonistas é impecável, com atuações que demarcam bem a personalidade de cada uma. Nesse cenário, a atuação de Kevin Bacon se destaca como um ponto de equilíbrio crucial para as três mulheres. A história nos leva de um ponto quase mágico e místico para a prosaica e certeira realidade das relações humanas. E o mais impactante é que, no final, cada personagem chega a um aprendizado que ele próprio escolheu dessa trama toda.