Crítica: Wicked (2024) | Sophia Mendonça
Ariana Grande e Cynthia Erivo são a alma do primoroso e denso musical WIcked: Parte 1. Leia a crítica de Sophia Mendonça.
Wicked é um musical fabulosamente crítico, que consegue analisar nuances das relações humanas em nível individual e estrutural, além das sociedades em pequena escala. Tudo isso culmina em um entretenimento de primeira grandeza, com números musicais fantasticamente elaborados, um enredo denso e interpretações formidáveis de Cynthia Erivo e Ariana Grande. Com isso, a obra discute em profundidade temas como política e amizade.
Este prólogo de “O Mágico de Oz” impressiona com locações exuberantes, que vão do campus da Universidade Shiz à Cidade das Esmeraldas. Esses cenários mostraram-se precisos para a atmosfera mágica da história, que diverte e emociona com personagens icônicos e números musicais chamativos.
Aliás, é admirável como o diretor John M. Chu é hábil ao aproveitar ao máximo a linguagem cinematográfica para descobrir novas possibilidades para um musical da Broadway. O cineasta, que já havia mostrado talento com a divertida e premiada comédia romântica Podres de Ricos (2018), evidencia aqui uma maturidade e uma identidade ainda mais consolidadas como diretor.
Baseado no musical homônimo da Broadway, Wicked é o prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Na trama, Elphaba (Cynthia Erivo) é uma jovem do Reino de Oz, mas incompreendida por causa de sua pele verde incomum e por ainda não ter descoberto seu verdadeiro poder. Sua rotina é tranquila e pouco interessante, mas ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, seu destino encontra Glinda (Ariana Grande).
Ela é uma jovem popular e ambiciosa, nascida em berço de ouro, que só quer garantir seus privilégios e ainda não conhece sua verdadeira alma. As duas iniciam uma inesperada amizade; no entanto, suas diferenças, como o desejo de Glinda pela popularidade e poder, e a determinação de Elphaba em permanecer fiel a si mesma, entram no caminho, o que pode perpetuar no futuro de cada uma e em como as pessoas de Oz as enxergam.
As interpretações primorosas de Cynthia Erivo e Ariana Grande são a alma do filme. Isso porque elas conferem uma humanidade palpável à dupla de protagonistas e um vínculo tão inusitado quando solidamente construído entre elas. O desafio de interpretar Elphaba e Glinda, não bastasse as nuances de caráter das personagens e a necessidade de sintonizar as interações entre elas, torna-se ainda mais difícil ao notarmos que esses papeis foram muito bem defendidos por Kristin Chenoweth e Idina Menzel na Broadway. Então, elas trazem os próprios instintos dramatúrgicos à dupla. Claro que as duas são cantoras magistrais, em especial a estrela pop Ariana Grande.
Essa característica aprimora as interpretações. Porém, engana-se quem pensa que verá uma cantora atuando, com aquela imagem de artista maior do que o filme. Ambas são perfeitamente críveis nos papeis. Por exemplo, Ariana Grande tem a oportunidade de desempenhar o seu natural talento cômico que já diverte desde as séries da Nickelodeon nos anos 2010. Ela faz isso ao mesmo tempo em que confere uma verossimilhança e uma empatia a uma personagem que poderia ser facilmente a caricatura de uma patricinha. Enquanto isso, Cynthia Erivo é excelente na transmissão de sentimentos que passeiam entre a solidão e a esperança. Sem contar que a amizade entre as personagens é absolutamente linda. Essa conexão é a responsável por conferir peso emocional à rica narrativa de “Wicked”.