Crítica: "Fala Sério, Mãe" | Selma Sueli Silva (2017)
Estereótipos da maternidade em "Fala Sério, Mãe", filme adaptado livro de Thalita Rebouças, com Larissa Manoela e Ingrid Guimarães.
Em “Fala Sério, Mãe!”, adaptado do livro de Thalita Rebouças, o exagero, próprio da comédia, transformou o sonho de ser mãe, em chavões que embora divertidos para muitos, acaba por depreciar a boa mãe que a personagem tenta ser.
O filme conta as histórias de Ângela Cristina (Ingrid Guimarães), e de sua filha adolescente Maria de Lourdes (Larissa Manoela). O roteiro traz as venturas e desventuras de uma mãe e da filha adolescente e vice versa. Cristina vive numa montanha-russa de emoções, com medos, frustrações e queixas. Por outro lado, Malu, como a filha prefere ser chamada, também tem suas insatisfações. Determinada, ela sofre com os cuidados excessivos da mãe.
Cristina entra em um caminho sem volta, que a torna mãe de 3 filhos em curto espaço de tempo. E dá-lhe clichê: o marido ‘esquecido’ pela mulher acaba por arranjar uma amante, e passa a representar apenas um papel ao lado da agora, mãe e dona de casa. Não há diálogo anterior, não há o movimento desse homem para tentar ser parceiro e amenizar o furacão que assusta a personagem. Ao contrário, há uma cena em que, pela primeira vez, depois da chegada da filha, o casal sai para dançar e se divertir. Mas a noite acaba com o marido tentando entender porque eles deveriam retornar, após um telefonema da mãe dele dizendo que a neta estava ardendo em febre. Essa foi a primeira e a última tentativa de tirar o casamento do círculo vicioso de agora somos só pai e mãe.
A situação financeira aperta e Cristina tenta resolver a equação de pouco salário e muitas contas a pagar. Afinal, ela não quis pensão e nem a ajuda do ex-marido – mesmo tendo 3 filhos. Sim, ela abriu mão de um direito que não era dela. Nessa hora, a filha MARAVILHOSA, embora a mãe seja apresentada como campeã de micos, percebe que quer ser como ela e sai em busca de um emprego. Pouco depois, Malu leva a mãe a um restaurante chique para contar sobre a perda da virgindade. Cristina fica histérica mas acaba por se esquecer do susto, para se jogar, no outro dia, no palco, ao lado de seu ídolo, Fábio Júnior. É que para compensar, a filha resolveu financiar o sonho de consumo da mãe.
E o pai? Ora o pai que ‘foi desobrigado’ de pagar pensão, leva os filhos, regularmente, para se divertirem. E só! Afinal, ele recompôs a vida. Foi promovido, se casou novamente e vive feliz com a NOVA mulher, num ‘tour’ constante pelo mundo.
Mas como prêmio de consolação, Cristina e a filha são ‘best-friends’, embora as maiores mudanças na vida da garota (perda da virgindade e viagem para Londres), tenham sido relatadas primeiro ao pai. E a mãe? Ora, ela teve direito de voltar para casa e os outros dois filhos, ouvindo Fábio Junior, sendo feliz com a felicidade da filha.